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As Jornadas de Junho e a crescente onda de manifestações

Ao que nos parece, ao menos duas são as possibilidades para entender o pensamento de quem imagina que reivindicar – que é diferente de solicitar, pois é obrigação do Estado garantir – algum direito é somente fazer um abaixo assinado, divulgar na mídia, fazer alguns cartazes e uma bela passeata pacífica. Alguém que pensa assim, de duas uma: ou é ingênuo, a ponto de pensar que os governantes, que ai estão, irão atender ou nos “dar de bandeja” o que é nosso (contraditório não?) ou desconhece o processo histórico de luta dos partidos políticos e demais pessoas engajadas (estudantes da rede pública, trabalhadores, artistas e muitas outras classes menos favorecidas), com suas demandas, lutas e sofrimentos – tal como foram os vinte longuíssimos anos de ditadura militar, que alguns ingênuos ( entendemos que só podem ser chamados, minimante, assim) dizem que foi melhor que o momento atual. Deste modo intentam reavivar essa época para resolver os problemas contemporâneos. Ledo engano! Ainda que hoje tenhamos muitos problemas – como é o caso da forte e marcante desigualdade social; da legitimada violência estatal por parte da nossa pouco instruída polícia; da inveterada corrupção; dentre inúmeros outros – tão certamente nenhum benefício, como acreditam alguns, será maior que os problemas e crimes em relação ao direito fundamental garantido pelo Artigo 5º da Carta Magna, sem o qual não é possível ter nenhum outro, a vida, como foi o época do militarismo.

Não que façamos apologia ao “quebra-quebra”, à violência ou a qualquer outra forma que atente contra a vida. Entretanto, sabe também o leitor que não é possível fazer uma omelete sem quebrar alguns ovos. Se, de fato, as reivindicações fossem sempre levadas a sério e os direitos humanos assegurados, não ocorreriam o tal “quebra-quebra” e o mal-afamado vandalismo, ao menos nas manifestações, as quais não teriam mais razão de existir, que não só para nós, mas para muitos entendidos no assunto, é mais um modo da mídia, a serviço dos poderosos, desqualificar o movimento e sua capacidade. No “frigir dos ovos”, o que resta aos desfavorecidos é se manifestarem de modo que sejam ouvidos e respeitados, ainda que, para tanto, sejam necessárias medidas mais enérgicas, tal como fazem algumas mães compromissadas com o futuro de seus filhos, para educá-los. Estas, quando os filhos precisam, volta e meia dão uma palmada ou agem de modo mais enérgico para que estes a respeite e atenda ao que ela está ordenando. Ou quando a mãe cansa de pedir, encarecidamente, ao seu filho que a respeite e passa a falar com mais intensidade e a tomar outras medidas almejando ser respeitada. Nessa analogia, entendamos os nossos representantes como nossos filhos, percebendo que eles podem determinar o futuro do nosso país, no qual o nosso (futuro), individual e coletivamente, está incluso.

Interessante, ainda, é observar a onda de manifestações que ocorre atualmente com mais frequência. Das mais diversas ordens (comunidades, categorias – antes de pouca ou nenhuma visibilidade como os garis –, bairros inteiros, municípios, estudantes do ensino médio, inúmeras greves – inclusive de militares, os quais são proibidos por lei, tal como consta no Artigo 142, inciso 3º, IV, da atual Constituição Federal) estas – as manifestações – são cada fez mais rica em qualidade e quantidade em relação aos seus objetivos, o que é natural com o aperfeiçoamento contínuo da prática.

Se tivéssemos que arriscar, pois não temos estudos que comprovem, apostaríamos nossas fichas em dizer que esta onda de reivindicações começou a ocorrer após a abertura gerada pela chamada Jornadas de Junho. Estes grupos de manifestações que ocorreram no Brasil no mês de junho tiveram como estopim a abusividade dos aumentos e precariedades do transporte público, passaram, rapidamente, a reivindicar muitas outras questões tais como os exorbitantes gastos com os mega eventos esportivos, o sucateamento da educação, a falta de segurança e de emprego, o descaso com a saúde, a violência (inclusive a policial) etc.

Tal onda, como constava em muitos cartazes, parece mostrar que o povo, se não acordou completamente para os “mandos e desmandos” de alguns poucos para muitos, ao menos deu um sinal que não está morto ou cego em relação a seus direitos e problemas sociais, nem que para isso ponha em xeque o cumprimento de seus deveres. Lembrando o cantor nordestino Djavan, em sua música “A carta”, “Não vá levar tudo tão na boa, brigue para obter o melhor”.

Observamos que tal como a Revolução Francesa de 1789, a qual inspira a nossa atual Constituição Federal, as chamadas Jornadas de Junho (de 2013) foi uma resposta séria e comprometida do povo, de um modo geral, que sofre com a corrupção, desigualdade, violência etc. Pais, mães, filhos, crianças, estudantes, avôs, avós, trabalhadores, desempregados, mulheres, gays, lésbicas e muita gente que paga seus impostos e já reivindicou de outros modos, foram às ruas em junho do ano passado para serem mais enérgicos na cobrança de seus direitos, os quais quase nunca foram atendidos. Chamar isso de vandalismo é tentar negar a força do povo e desse movimento. Entendemos que é menosprezar as forças que se coadunaram para manifestar a sua insatisfação com o modo desigual, viciante, mesquinho, tacanho e corrupto de governar da maioria dos nossos representantes políticos. Dizer que o movimento foi sem base e desorganizado é esquecer – ou não saber – que, se aqui começou contra o aumento da passagem do transporte público, na França foi contra o aumento do preço do pão. Aí é só constatar a repercussão e benefícios, para os direitos humanos, advindos da Revolução Francesa e concluir, pouco importa o motivo ou como começa. O que importa mesmo é a força e proporção que tem. Tal como versa, o também nordestino, Geraldo Azevedo em sua música “Adoro você”, “começo de tudo não dá pra saber”; e completa “a vida não pára, tempo que se tem pra viver é agora, hora melhor, realizar o futuro”.

Por Fernando Gramoza
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