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As redes sociais enquanto catarse

(Foto: Divulgação)

Momentos grandiosos – como foram as manifestações contra o Golpe Militar de 1964; a favor das eleições “Diretas já” em 1985; o impeachemant, em 1992, do então presidente Fernando Collor de Melo; as chamadas Jornadas de Junho de 2013, entre outros – habitam o imaginário daqueles que conheceram o assunto, mas, por motivos temporais, locais, entre outros, não estiveram presentes nesses atos de ação social.

Após o que foi acima retratado é preciso que a palavra “catarse” seja aqui entendida como descarga de sentimentos e emoções. Tal termo será ainda, nesta reflexão, utilizado para designar a possibilidade de expurgar emoções, para purificar-se, livrar-se de sentimentos como a frustração por não ter feito parte de momentos de lutas, reivindicações sociais e afins, tais como os supracitados, onde pudesse, de fato, viver por um ideal para nortear sua existência e dar-lhes um sentido para viver.

Ter sido agredido ou desafiar a polícia, marchar em grupo, ser subversivo, atirar coquetel molotov ou uma pedra, ser considerado perigoso como foram as ideias do intelectual italiano Antonio Gramsci – que foi preso por causa de suas ideias tidas como subversivas –, são questões que habitam o imaginário de algumas pessoas. Entre estas algumas outras com “ideias de esquerda”.


Não sabemos o motivo ao certo, todavia assumimos aqui a argumentação de que, psicologicamente, isso, de usar as redes sociais como forma catártica para significar a vida, está ligado ao fato de não possuir um ideal para nortear a existência, esta que pode estar um tanto fragmentada e sem sentido, tal como versa a pós-modernidade, quando da ideia da morte de Deus, anunciada pelo filósofo Friedich Wilhelm Nietzsche, em sua obra, “A Gaia Ciência” (1882) e popularizada em “Assim Falou Zaratustra, um Livro para Todos e para Ninguém” (1883-1885). Ainda que Nietzsche tenha dissertado sobre este ideia, esta já havia sido engendrada quando, na transição da Idade Média para modernidade, a crença em Deus cede lugar à crença na razão e à necessidade de possuir novos valores e modos de agir sob uma nova base de pensar.

Deste modo a internet, mais especificamente as redes sociais, representa um espaço livre para desenvolver ideias, discussões, postar fotos, compartilhar frases de pensadores e demais postagens que não precisem ser provadas, aprofundadas ou careçam de sentido completo. Neste local de socialização, de visibilidade e de aparência, é possível ser quem quiser sem de fato ser. Revolucionário (a), religioso (a), inteligente, safo (a), bonito (a), forte, educado. É possível até ser Deus, e criar o perfil que quiser, com poderes e outras características, estando em mais de um lugar de modo concomitante. Ambientes de exposição da vida, possíveis dissipadores da solidão, de raiva, de ódio, de injúria, ferramentas como o Facebook são usadas como o ambiente para expressar dores, angustias e se livrar de um certo fado de não fazer algo útil à sociedade, não por ela mesma com algum altruísmo ou comprometimento social, mas para significar a vida parca e sem sentido de alguns, trazida pela perda de sentido da pós-modernidade – aqui retratada no quarto parágrafo.

Assim, o mesmo espaço, onde é possível expurgar e se purificar de problemas, faltas (como as financeiras e afetivas) e afins, é também um ambiente catártico para se livrar da angustia de não fazer nada supostamente útil ou contribuir socialmente para dias melhores. É urgente pensar para além desses ambientes virtuais e assumir a vida como ela é, fazendo o que se pode e aceitando o que não pode ser mudado, mas sem deixar de lutar e sem fugir do que convencionamos chamar de realidade e da relação com as pessoas que nela estão. Para tanto, cabe lembrar o sumido cantor cearense Belchior, em sua música “Alucinação”, lançada no ano de 1976, no álbum de mesmo nome: “A minha alucinação é suportar o dia-a-dia, e meu delírio é a experiência com coisas reais [...] Amar e mudar as coisas me interessa mais”.

Por Fernando Gramoza.
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