Edição especial: Lu Spinelli a pioneira da dança contemporânea em SE
Em meio ao mercado de trabalho, imperam as profissões mais convencionais, porém, o que seria da história de um povo sem os operários da arte? É na classe empregatícia de coreógrafa que Lu Spinelli se enquadra. Baiana radicada em Aracaju, tornou-se pioneira na introdução da dança moderna e contemporânea em Sergipe há 43 anos, e ainda permanece na ativa com a escola Studium Danças e a realização de festivais anuais.
Regina Lúcia Matos Spinelli começou aos quatro anos no teatro infantil em Salvador, cidade onde nasceu, interpretando a personagem Emília, da obra do Sítio do Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato, pela qual recebeu um prêmio da própria filha do autor. Mas logo percebeu que as artes cênicas não lhe completavam. Ao seis anos, começou a fazer escola de dança na Universidade Federal da Bahia, na época dirigida pelo primeiro reitor negro, Edgar Santos,que trouxe alemães para montar uma escola livre de dança, teatro e belas artes, em extensão àcomunidade. Nesta fase, Lucia obteve um rico aprendizado com grandes nomes da dança, como Claus Viana, Rolf Gelewski, Lia Robato, Dulce Aquino, entre outros.
Inquieta, Spinelli passava férias fazendo cursos de verão referentes à sua área, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Anos mais tarde, estudou expressionismo alemão em Essen, na Alemanha. A modalidade dança contemporânea foi a que mais lhe chamou a atenção, e a bailarina passou a estudar o tema profundamenteem São Paulo com Renée Gumiel, uma francesa considerada a precursora da dança moderna no Brasil.
Através do primo Júlio Vilan, a bailarina teve a oportunidade de conhecer renomados coreógrafos como JC Violla e Ivaldo Bertazzo. Passoua trabalhar no Ballet Stagium, na capital paulista, sendo empresária para a região Nordeste durante 20 anos. Como Aracajuainda não tinha uma escola com foco nestas modalidades da dança, Lucia resolveumontar o Studium Danças e trouxe muitos amigos de lugares por onde passou para ajudar a compor o projeto.
“Surgiu em 1971, cumpriu seu papel como escola, formando pessoal e colocando no mercado mesmo que restrito. Intercambiou ações culturais, cursos, espetáculos com outros estados e países, esteve presente em todos os eventos de relevância no país. Fundou um grupo amador que depois oficializou-se para profissional o qual representou Sergipe a convite de vários eventos, também faz excursões por algumas capitais. Estamos atuando há 43 anos mostrando o trabalho de diversos profissionais que lá trabalham. Além de realizar espetáculos anuais dirigidos ao publico infantil, juvenil e adulto, que aconteceram de forma ininterrupta durante todos estes anos. Fomentamos a arte da dança em nosso estado, com melhoria de qualidade de trabalho a cada ano conseguindo conquistar um lugar de destaque e seriedade não só em Sergipe, mas no Brasil, com a tranquilidade de um dever cumprido”, afirmou Lu Spinelli sobre o Studium Danças.
Quando perguntada sobre as dificuldades da profissão, a bailarina relata que adificuldade maior é o mercadorestrito. Conta ainda que, em relação àscompanhias e grupos profissionais, as chances são muito poucas e a remuneração é muito pequena para as necessidades de alimentação,saúde,pagamento de coreógrafos e ensaiadores. Exceto nas grandes capitais onde há maiores oportunidades.
A profissionalização em meio à dança
Sobre seu trabalho de formação de novos bailarinos, a coreógrafa faz críticas ao espaço para o gênero artístico em Sergipe. “Não coloco bailarino pronto no mercado, porque aqui não tem produto pronto. Aqui tem talentos trabalhados a serem muito mais trabalhados. Porque Sergipe não tem mercado profissional. Pessoas extremamente talentosas ficam na base do amadorismo”. Já sobre os alunos, Lu reflete sobre a conduta. “Quem não faz quatro, cinco horas de aula por dia, não pode dizer que é bailarino profissional”. Vários alunos já saíram do Studiumpara outras instituições brasileiras, como a conceituada Escola Estadual de Dança Maria Olenewa, no Rio de Janeiro.
Atualmente a professora cultiva uma paixão, a dança afro. Apesar de ser brasileira, o interessecomeçou nos Estados Unidos. “O afro brasileiro é muito bonito, mas ele fica restrito a dança de orixás, basicamente ao folclore. Já o afro americano mistura blues, soul, clássico moderno, que é uma coisa muito qualificada, estudo muito sobre este universo”, explica Lu Spinelli. Ela participa também dos principais eventos de dança do país, como convidada, onde ministra aulas como analista e curadora. Outro recente destaque do seu curriculum é a escrita de críticas sobre eventos e grupos de dança Brasil a fora. Para os próximos projetos, a função de analista é a mais requisitada, já há convites fechados para 2014.
Ao fundar sua escola e lutar para abrir o mercado no estado, apesar da bagagem de conhecimentos práticos e teóricos, é visível a defasagem da valorização do profissional de dança. As dificuldades só refletem os problemas que Sergipe tem que enfrentar, para oferecer um campo mais sólido para o operariado desta e de outras artes que enfrentam problemas da mesma linhagem. Enquanto isso não acontece, vale seguir exemplos de perseverança como o de Lu Spinelli.
Por Rodrigo Alves
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