Um recado: ao povo ou aos governantes?
(Foto: Divulgação) |
A violência suscitada e mostrada, explicitamente, pelos ditos programas polícias, estes, que sendo um produto da mídia sensacionalista, são uma febre em nosso país, têem levado o povo a praticar violência e achar isso necessário. Tais programas mostram violência e dizem que não a apoiam, mas atuam no imaginário das pessoas quando expressam que os que fizeram aquilo o fizeram porque a polícia não atua, ou quando atua e prende, ‘a justiça’ solta. Agindo assim, esses programas acabam disseminando uma onda de desejo que visa realizar justiça com as próprias mãos. Ações como linchamento suscitam dois outros problemas: o de que fazer isso por conta própria é fazer o papel do Estado, o qual arrecada impostos, também, para atuar na segurança e justiça social; por conseguinte, quando o acusado é agredido e até morto, ele passa de criminoso à vítima de agressão, pois sua punição extrapola o seu delito. Isto é assim tal como prenuncia o filósofo francês Michel Foucault, em seu livro “Vigiar e Punir” (1975).
Como foi levantado acima, a excessiva e deliberada agressão não pode, jamais, ser confundida com justiça, pois é, na verdade, umas das manifestações da barbárie humana, o que alguns pensadores, como o alemão Immanuel Kant, vão refletir e escrever contra. Para Kant, a educação, como sendo o que pode tornar o ser humano – diferente do instinto animal – no que ele pode ser de melhor, alargando suas potencialidades e desenvolvendo seu gérmen de sociabilidade, é algo como o antídoto contra o desenvolvimento do lado animal inerente à humanidade.
Ontem o povo brasileiro foi às urnas para eleger seus representantes políticos. Nestes e noutros momentos momentos algumas pessoas falam que ocorre uma insatisfação geral com a política de nosso país – roubalheira, corrupção, descaso com serviços públicos e afins – e que isso, com o tempo, leva ao surgimento de “justiceiros”. Todavia, a insatisfação social com a política atual não pode levar à justiça com as próprias mãos, pois não esqueça o leitor que nem sempre foi assim, esse descaso e essa desavergonhada falta de compromisso com a representação popular, somado a esse quase que investimento em dependência e ignorância social (assistencialismo de alguns programas sociais) nem sempre existiram, para tanto é só lembrar do pensador renascentista
Nicolau Maquiavel, quando em seu livro “O Príncipe” sugere que o objetivo maior de um governante honrado seja nada mais que o bem do povo. Os políticos são nossos representantes e, como tal, devem responder aos anseios sociais de quem mais precisa.
O recado é em vias de que estes fiquem cada vez mais atentos e percebam que a educação, que parece nunca ter sido prioridade, ao menos no que diz respeito ao desenvolvimento intelectual do povo, pelo caráter crítico-reflexivo imanente a essa atividade, o que é nocivo às práticas desiguais e corruptas de alguns governantes, de modo premente, deve ser tão logo motivo de investimento e de especial atenção pelo seu caráter apaziguador do ímpeto animalesco que existe nos humanos, tal como versou Kant. Isso, pois, não só a população, mas também eles – os governantes – correm o risco de serem vítimas das ações bárbaras do povo, que os representantes tanto estigmatizam e subestimam.
Tal qual observamos nas manifestações sociais de junho do ano passado, os governantes precisam atentar para a força do povo, inclusive para barbárie, pois como versaram, ao seu modo, os filósofos John Locke e Jean Jacques Rousseau, o poder político emana do povo. Quando este quer, e tem consciência, pode mudar as situações políticas, e, consequentemente, sociais.
Por Fernando Gramoza
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