Travesti é assassinado a pedradas no centro de Aracaju
O travesti Amós Lima Chagas, 39, um dos mais populares e conhecidos de Aracaju, que ganhou o apelido de Madona, foi assassinado com golpes de paralelepípedo, crime ocorrido na madrugada da última sexta-feira, 19, no centro de Aracaju.
Há informações que o assassino teria atingido Madona com paralelepípedos. Ele ainda foi socorrido com vida e encaminhado pela equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ao Hospital de Urgência de Sergipe (Huse), onde morreu na noite desta terça-feira, 23. De acordo com informações do Huse, Madona deu entrada no hospital a 1h39 da madrugada da sexta, com traumatismo craniano (TCE) e faleceu às 18h44 da terça-feira.
O corpo de Madona está sem identificação no Instituto Médico Legal (IML). Na casa da rua São Luís, no bairro Industrial, onde ele morava, não há sinais de documentos da vítima e, entre os vizinhos o clima é de tristeza. “Ele era muito divertido, alegre, gostava muito de dançar, brincar e não fazia mal a ninguém. Só gostava de andar nos trinques e quando ouvia um som de carro ia pra lá e pra cá dançando e a gente ria muito”, comenta a dona de casa Lívia Maria Vieira, imitando os trejeitos do travesti.
Diariamente a vizinha costumava preparar as refeições para Madona. “Ele aparecia com massa de cuscuz, galinha e me chamava e eu, todo dia, fazia o café dele. Todo dia por penitência, eu fazia a comida”, comenta dona Lívia.
Amado e odiado
Madona foi visto pela última vez na comunidade na última quinta-feira, 18. “Ele passou alegre, de manhã, e disse ‘bom dia dona Terezinha’, saiu e não apareceu mais”, diz a também dona de casa Terezinha dos Santos Silva, uma outra vizinha do travesti, que não esconde a tristeza pela morte do travesti. “Aqui a gente vai sentir muito a falta dele porque era muito respeitoso com a gente, era uma pessoa muito boa. Sempre dizia: ‘minha comunidade eu respeito’. Se ele aprontava era pra lá pela rua”, observa dona Terezinha.
Madona costumava andar pelas ruas do centro da cidade, sofria maus tratos, se comportava de forma divertida, mas também tinha reações violentas quando estava sob efeito de drogas, segundo informações do pessoal que sempre o encontrava, e também encantava muito com as brincadeiras que costumava fazer com os transeuntes. “Ele era querido e odiado, ao mesmo tempo”, observa o comerciante Carlos Alberto Rosa, dono de um bar na rua Santa Luzia, no centro. “Tinha mania de grandeza e dizia que a Globo [rede de televisão] estava perdendo porque não o contratava como atriz”, lembra o comerciante. “Ele desaparecia por um tempo e quando aparecia exibia as roupas de mulher que vestia dizendo que tinha ido a Paris buscar confecções”.
Abandono
Os vizinhos não sabem do paradeiro dos pais de Madona. A mãe, segundo informou dona Lívia, saiu de casa há muitos anos e teria abandonado os filhos. Na casa da rua São Luis, ele morava com dois irmãos: Dário e Sidrack. Mas está abandonada.
De acordo com os vizinhos, Sidrack foi encontrado morto no mercado de Aracaju e o corpo foi enterrado como indigente. Alguns falam que Sidrack sofreu choque anafilático. “Dizem que ele estava dormindo e jogaram água gelada nele e aí, com o choque, ele morreu”, conta dona Lívia. Outros revelam que há comentários que ele teria sido envenenado. “Ouvi dizer que colocaram veneno na comida dele”.
Já Dário Chagas está preso. Segundo informações da vizinhança, Dario teve um desentendimento com um vizinho que prestou queixa contra ele na Delegacia de Polícia. “Mas ninguém falou que ofenderam ele [Dario] primeiro e ele reagiu”, disse dona Lívia. “Falar a verdade não é pecado”.
Parte da casa desabou no dia 14 de setembro do ano passado e a construção foi condenada pela Defesa Civil, mas os moradores não fizeram os reparos e, sem grande parte do telhado, eles permaneceram vivendo no imóvel.
Por Cássia Santana da Infonet
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